sábado, 29 de junho de 2024


 -Santa Clara e os Sarracenos


Durante o tempo de infortúnio que desabou sobre a Igreja
no reinado do imperador Frederico, o vale de Espoleto foi um
dos lugares que mais sofreu a calamidade da guerra. Ali se concentraram, por ordem imperial, como enxames de abelhas, esquadrões de cavalaria e archeiros sarracenos, com o propósito de destruir os castelos e atacar as cidades fortificadas. Nesta situação, também Assis, a cidade de particular preferência do Senhor, foi objeto da fúria do inimigo.

Os sarracenos, gente de má índole, sedentos de sangue cristão e capazes dos mais nefandos crimes, caíram sobre São Damião,
invadindo o terreno do mosteiro e penetrando mesmo no claustro
das irmãs (53). Completamente atemorizadas, a voz embargada pelo
medo, as pobres senhoras, acolheram-se chorosas à proteção da
mãe. Ela, que jazia enferma, permaneceu serena. Pediu que a conduzissem à porta e que a pusessem em frente do inimigo, precedida do cibório de prata contendo o Corpo do Santo dos Santos.

Depois, prostrada de bruços em oração ao Senhor, entre
lágrimas falou ao seu Cristo: “Vais permitir, meu Senhor, que
sejam entregues às mãos do inimigo estas tuas filhas indefesas, que no teu amor criei? Eu te peço, Senhor, protege estas tuas servas, uma vez que eu não estou em condições de as poder defender”.

De seguida, desde o propiciatório da Nova Aliança, ouviu-se como que uma voz de criança que lhe dizia: “Eu sempre vos defenderei”. “Meu Senhor, acrescentou ela, se é do teu agrado, protege também esta cidade que por teu amor nos sustenta”.
Ao que Cristo respondeu: “Sofrerá muitas tribulações, mas com a
minha proteção será defendida”.

Então, levantando o rosto banhado em lágrimas, conforta as
que choram, dizendo-lhes: “Filhinhas, garanto-vos, com toda a
confiança, que nenhum mal vos acontecerá, basta para tanto que
confieis em Cristo”.

E, de repente, o atrevimento audaz daqueles cães transformou-se em pavor e trataram de fugir precipitadamente pelos muros
que tinham escalado, vencidos pela força da oração.
Em seguida preveniu as irmãs que tinham ouvido a voz,
dizendo-lhes em tom enérgico: “Livrai-vos, queridas filhas, de
revelar alguma coisa, a quem quer que seja, sobre esta voz,
enquanto eu viver”.

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