sábado, 31 de outubro de 2020

Reflexão sobre a "Exortação Apostólica Christus Vivit", do Papa Francisco, endereçada aos jovens

Concluindo o mês de outubro, dedicado às missões, partilhamos uma singela reflexão sobre a "Exortação Apostólica pós Sinodal Christus Vivit, do Papa Francisco, endereçada aos jovens e a todo povo de Deus; podendo ser um forte estímulo para uma vivência mais intensa e comprometida do Santo Evangelho, em nossos dias.

“Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados” 

Podemos dizer que esta frase é o ápice de tudo o que os jovens precisam ouvir. O que frequentemente acontece nos tempos atuais é o medo. Medo que paralisa, que muitas vezes impede os jovens de darem um passo a mais em suas vidas; de dizer ‘SIM’ à sua vocação. Fecham os olhos para a esperança e se tornam sem vida, realmente paralisados.

É próprio do jovem sonhar coisas grandes, buscar horizontes amplos, mas quando um jovem perde a esperança, perde a alegria de viver, de sonhar, acaba por se aposentar antes do tempo. Exatamente o que o Santo Padre exorta a evitar: “Não vos aposenteis antes do tempo. A juventude é uma canção de esperança”

O Papa nos convida a fazermos a pergunta: Como se vive a juventude, quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho? Ao ouvirmos estas palavras imediatamente recordamos de Francisco e Clara de Assis, pois eles deixaram o exemplo de sua juventude os iluminar completamente pelo anúncio do Evangelho, a ponto de querer vivê-lo e viveram bem, com radicalidade, com intensidade e fervor de espírito. Viveram com amor e alegria de coração. Sonharam, lutaram e conseguiram! Assim deve ser um jovem, segundo nos exorta o Santo Padre.

A juventude é um dom de Deus, confirma o Papa. Clara e Francisco viveram esse dom com toda abertura de coração. Que possamos viver deixando-nos iluminar pelo grande anúncio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com alegria e esperança, deixando-nos iluminar por Cristo e irradiando está luz aos que estão à nossa volta. 

Paz e Bem!
Irmãs do Mosteiro de Santa Clara

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Afinidade espiritual de Santa Teresa com nossos seráficos fundadores Francisco e Clara de Assis

Neste dia 15 de outubro, celebramos com toda a Igreja a memória de Santa Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja. Temos a alegria de partilhar convosco alguns aspectos da afinidade espiritual de Santa Teresa com nossos seráficos fundadores Francisco e Clara de Assis, assim como a especial colaboração do santo varão, frei Pedro de Alcântara, da Ordem do glorioso São Francisco, na sua atividade reformadora da Ordem Carmelitana. 

No seu "Livro da Vida", Santa Teresa descrevendo seu modo de oração e as mercês que o Senhor lhe tem feito, declara com convicção que pela humanidade de Cristo se há de chegar à mais subida contemplação, afirmando:

“Desde que entendi isto tenho considerado atentamente alguns Santos, grandes contemplativos, e vi que não iam por outro caminho. São Francisco bem o mostra nas Chagas, Santo Antônio de Pádua, no Menino [...]” 

E conclui dizendo: "quando pensarmos em Cristo, sempre nos lembremos do amor com que nos fez tantas graças e da grande ternura que nos testemunhou Deus em nos dar tal penhor do muito que nos ama: pois amor produz amor. E, ainda que nos vejamos muito ruins e muito no princípio, procuremos sempre ir considerando estas verdades e estimulando-nos a amar, porque, uma vez que nos faça o Senhor a mercê de que se nos imprima no coração este amor, ser-nos-á tudo fácil; faremos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho". Deste modo, com o exemplo de São Francisco, Santa Teresa contempla na humanidade de Cristo, o Amor que não é amado.

Já na obra "Caminho de Perfeição", ao dar seus avisos e conselhos às irmãs e filhas espirituais dos Mosteiros da Regra Primitiva Carmelitana, tratando da oração, faz referência a São Francisco no tocante à sua relação de liberdade para com as criaturas, das quais Deus é o Senhor:

“ [...] A São Francisco até as aves e os peixes o obedeciam e muitos outros santos, nos quais se via claramente que eram tão senhores de todas as coisas do mundo, porque muito tinham trabalhado para o terem em pouco, sujeitando-se deveras, com todas as suas forças, Àquele que é o Senhor dele [...]” 


E quando Santa Teresa discorre no "Caminho da Perfeição" a respeito do bem que há na pobreza, faz referência persuasiva a atitude de Santa Clara de Assis, que tem na Altíssima Pobreza seu grande ideal de vida: 

“Como dizia Santa Clara, grandes muros são os da pobreza. Destes, dizia ela, e da humildade, queria cercar os seus conventos; e, certo é que, se isto se guarda de verdade, a honestidade e tudo o mais estará muito melhor fortalecido do que em suntuosos edifícios” 

É cativante o relato de Santa Teresa no seu Livro da Vida, afirmando sua extrema devoção por Santa Clara: “Quando ia comungar, no dia de Santa Clara, apareceu-me esta Santa com muita formosura.

Disse-me que tivesse coragem e prosseguisse no meu empreendimento, pois não deixaria de me ajudar. Cobrei-lhe extrema devoção. Em prova do cumprimento de sua promessa, um mosteiro de sua Ordem, situado perto do nosso, nos tem ajudado a viver. Ainda mais: pouco a pouco a bem aventurada Santa elevou os meus anelos a tanta perfeição que a pobreza por ela instituída em seus mosteiros se observa também neste, e vivemos de esmolas. Mais ainda faz o Senhor, talvez pelos rogos da bendita Santa, pois sem peditório algum nos provê do necessário com muita fratura. Seja bendito por tudo. Amém”.

No seu itinerário de santificação pessoal e na reforma de sua Ordem, Santa Teresa estabeleceu relação muito estreita com quem podia compartilhar da sua sede de renovação espiritual e comunitária. Entre os Franciscanos, encontrou São Pedro de Alcântara, confessor, confidente e protetor da Madre Teresa e de seus projetos renovadores. Ela mesma ao fazer referência a este filho espiritual de São Francisco,  o define, entre tantas ações virtuosas, como aquele que guardou a Regra primitiva do bem-aventurado São Francisco em todo o seu rigor.

Quando Teresa decide com algumas amigas suas mais íntimas abraçar um estilo de vida carmelitana mais perfeito, recebe para o seu projeto a aprovação de São Pedro de Alcântara, que a influência na escolha da pobreza absoluta. Em uma carta a ela dirigida, o santo a adverte com firmeza e autenticidade: “Admiro-me que vossa graça submeta à opinião dos doutos aquilo que não é da alçada deles. Não busque o parecer a não ser daqueles que vivem o que aconselham, porque ordinariamente esses tais não compreendem mais do que fazem e vivem”.

Louvamos e bendizemos a Deus pela contribuição dos nossos Santos fundadores e dos fiéis filhos da Ordem Seráfica na vida e missão da grande filha da Igreja Santa Teresa de Jesus! Concluímos esta reflexão com a oração da Liturgia das Horas:

“Ó Deus, que pelo Espírito Santo fizestes surgir Santa Teresa para recordar à Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar sempre alimento em sua doutrina celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Ação de graças pelos 25 anos de Profissão Perpétua de Irmã Maria dos Prazeres do Sagrado Coração de Jesus





"Eu me alegro de verdade, e ninguém vai poder roubar-me esta alegria, 
porque já alcancei o que desejava abaixo do céu" 
(3ª Carta de Santa Clara) 

No dia 07 de outubro, data em que celebramos Nossa Senhora do Rosário, tivemos a graça da Celebração Eucarística dos 25 anos de Profissão Perpétua na Ordem de Santa Clara de nossa querida Irmã Maria dos Prazeres do Sagrado Coração de Jesus. Ela foi a primeira vocação que nosso Mosteiro recebeu, no ano de sua inauguração (1989).

Em 2014, Irmã Maria havia comemorado solenemente os 25 anos de Vida Religiosa Clariana e ela mesmo afirmava que nunca imaginou poder chegar a celebrar esta data. O Pai das Misericórdias, que nunca se deixa vencer em generosidade, concedeu-lhe ainda a grande graça do Jubileu Argênteo de sua Perpétua Profissão! 



A Santa Missa teve início às 10 horas e foi presidida pelo Exmo. e Revmo. Dom Gilson Andrade, Bispo da Diocese de Nova Iguaçu (RJ), e concelebrada pelo Sacerdote diocesano, Padre Ricardo Nunes.

Aos 88 anos e manifestando grande alegria, Irmã Maria dos Prazeres pronunciou com voz firme e vibrante a fórmula da Profissão Religiosa. Foi para nós ocasião de grande júbilo, louvor e ação de graças a Deus, em contraposição às situações tão dolorosas que o mundo está a viver nestes tempos de pandemia. 


Que o exemplo de vida inteiramente doada a Deus na Vida Contemplativa Clariana de nossa querida Irmã Maria possa suscitar nos jovens e nas jovens o desejo ardente de também dizerem o seu SIM generoso a Deus, no cumprimento de Sua santíssima vontade e assim ‘incendiarem’ o mundo com o amor de Cristo, que em Clara e Francisco se traduziram em plenitude de Paz e Bem!

sábado, 3 de outubro de 2020

Reflexão para a Solenidade de São Francisco de Assis


“Eu, Frei Francisco, pequenino, quero seguir a vida e a pobreza do Altíssimo Senhor nosso Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe e nela perseverar até o fim. Rogo-vos, senhoras minhas, e vos aconselho a que vivais sempre nessa santíssima vida e pobreza. Guardai-vos bastante de vos afastardes dela de maneira alguma pelo ensinamento de quem quer que seja”.
(Última Vontade para Santa Clara) 

Louvamos e bendizemos o Altíssimo e Glorioso Deus pela oportunidade de celebrarmos a Solenidade de nosso Pai São Francisco neste ano tão singular, em que a humanidade sofre o flagelo da pandemia do novo coronavírus.

Na tarde do dia 03 de outubro recordamos os últimos momentos de Francisco nesta terra e seu feliz ‘voo para o céu’, na cerimônia do solene Trânsito, às 16 horas. Pudemos nos transportar espiritualmente a Assis e experimentarmos o imenso amor de Francisco ao Altíssimo e a todas as criaturas, suas irmãs, particularmente a irmã morte a quem abraçou com tamanha ternura.

Em nosso coração permanece a lembrança de sua última vontade dirigida a Santa Clara, que acolhemos carinhosamente para nós. Que nunca nos desviemos desta santíssima vida e pobreza, e sejamos luz para o mundo com nossa vida inteiramente doada, em constante oração em favor da salvação do mundo.

No dia 4 de outubro, celebramos a Solenidade de São Francisco com sentimentos de profunda gratidão por sermos, a exemplo da mãe Santa Clara, suas plantinhas, neste belo jardim seráfico, fulgurante nas três Ordens por ele fundadas, cujo perfume atravessa os séculos com testemunhos autênticos de santidade.

Na Santa Missa solene, às 10 horas, nos unimos à toda Família Franciscana, num grande hino de louvor ao Pai, implorando bênçãos e graças para a humanidade sofredora. 


Aproveitamos para expressar nosso sincero agradecimento aos Frades Menores da Província da Imaculada Conceição do Brasil, que continuam até hoje cumprindo a promessa do Pai São Francisco, que nossa mãe Santa Clara inseriu na sua Regra como preciosa herança: “Eu quero e prometo, em meu nome e em nome dos meus irmãos, ter sempre para convosco, como tenho para com eles, diligente cuidado e solicitude particular”.

A todos os que contemplam estas linhas, aos dedicados benfeitores, particularmente os fiéis devotos de São Francisco de Assis, a nossa saudação franciscana de Paz e Bem, unida à certeza da oração de Suas Irmãs Clarissas!

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A herança espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus e Madre Virgínia da Paixão

"A caridade do Sangue de Cristo é fonte inesgotável de Vida em comunhão, que, nos santos, é intensamente teste­munhada e revelada. Santa Teresinha do Menino Jesus e Madre Virgínia da Paixão, configuradas com Cristo, não se distanciaram de nós pela irmã morte nem na contemplação da visão trinitária. Pelo con­trário, vivem a verdadeira Vida e continuam conosco, louvando, intercedendo e derramando bênçãos divinas sobre o mundo" (Ir. Maria da Cruz, OSC). 

Com grande alegria iniciamos o mês de outubro fazendo memória de Santa Teresinha do Menino Jesus, religiosa Carmelita, padroeira das missões por quem nutrimos grande carinho e devoção, particularmente por sua intensa amizade com a religiosa Clarissa, Madre Virgínia Brites da Paixão, falecida em odor de santidade, natural da Ilha da Madeira, Portugal, de onde vieram as Irmãs fundadoras deste Mosteiro de Santa Clara, em Nova Iguaçu (RJ). Clique aqui e veja o relato na íntegra.

Pouco antes de morrer, Santa Teresinha prometeu que iria passar o Céu a fazer bem à Terra, e que faria cair uma chuva de rosas (graças divinas). O que não sabíamos é que a primeira das pétalas caíra sobre uma portuguesa, Religiosa Clarissa, na Madeira, no mesmo dia do falecimento e entrada no Céu da “pequena Teresa” que então ninguém conhecia, muito longe ainda da impressionante popularidade que alcançaria, graças aos seus “Manuscritos Espirituais” cuja primeira versão correu o mundo com o título de “História duma Alma” que em breve seria traduzida, em mais de 50 países, em sucessivas edições.

Esse início da “chuva de rosas” vem narrado por Irmã Otília Rodrigues Fontoura, OSC, no livro “Madre Virgínia — Uma Vida de Amor” (Sintra, 2002).

Decorria o ano de 1897. A Irmã Virgínia da Paixão, a humilde religiosa Clarissa do Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês no Funchal, encontrava-se gravemente doente, devido a uma queda nas escadas. Esta enfermidade fazia-a sofrer muito, não só pelas dores físicas, mas pela relutância que experimentava em deixar-se examinar pelo médico. Com a força das dores não conseguia conciliar o sono. Na noite de 30 de setembro, sentindo aumentar os sofrimentos, pediu ao Senhor que lhe curasse por intercessão da primeira alma que entrasse naquele momento no Paraíso. A resposta do céu não se fez esperar. Narra-nos a Madre Virgínia nos seus escritos:

“Senti uma mão invisível que me tocava e vi junto do meu leito uma religiosa vestida de hábito pardo, manto branco e véu preto na cabeça. Conheci que não era a nossa enfermeira. Era manhã, mas ainda fazia escuro, e reconhe­ci à luz bruxuleante da lâmpada, que era uma religiosa nova e muito formosa. Referiu que Jesus, respondendo à minha súplica, a tinha enviado para lhe dizer ser Sua vontade me submetesse ao exame clínico prescrito e me deixasse tratar. Ela seria a minha fiel enfermeira. Perguntei-lhe quem era. Por fim, sorriu e disse: eu sou uma religiosa carmelita, chamada Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, que acabo a vida mortal e entro já no Paraíso. Recomendou-me segredo até ao tempo que aprouvesse ao divino Senhor revelar (o milagre) e desapareceu” 


Madre Virgínia relata que o médico fez a intervenção cirúrgica conveniente e que Santa Teresinha do Menino Jesus foi a sua fiel e dedicada enfermeira, tirando-lhe todas as dores. “Fiquei perfeitamente boa. Fui curada milagrosamente. Isto deu-se no dia 30 de setembro para 1 de outubro de 1897. No dia 4, festa do meu Pai S. Francisco, já pude tomar parte nas funções da comunidade”. Clinicamente era inexplicável como em tão pouco tempo se realizou a prodigiosa cura. Mistérios de Deus: nesse mesmo dia, em Lisieux, realizava-se o funeral de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face.

Madre Virgínia Brites da Paixão e Santa Teresinha do Menino Jesus nunca se conheceram pessoalmente nesta vida. As duas contemplativas pertenciam a famílias religiosas distintas: uma foi Clarissa e a outra carmelita. Privilegiavam uma herança comum na diversidade e riqueza carismática: a vida contemplativa que é patrimônio espiritual da humanidade.